segunda-feira, 21 de março de 2011

(uma) Série de contos

Uma ameaçadora gravata amarela

Um profundo mistério. Toda a história estava envolta num profundo mistério. Um mistério tão profundo que pouquíssimas pessoas conheciam a história. Pouquíssimas pessoas e algumas moscas. Bom, pouquíssimas pessoas, algumas moscas e um baralho de cartas de jogar. *
Na verdade, apenas conheciam a história pouquíssimas pessoas, algumas moscas, um baralho de cartas de jogar e vários pardais. Os peixes-voadores também conheciam a história, mas ignoravam alguns pormenores importantes. Ignoravam, por exemplo, que no dia fatídico Turovsky usava uma ameaçadora gravata amarela e que Sinavsky soltara um ai bestial antes de tropeçar num longo et caetera e cair para sempre no sono.
Ah sim, esquecia-me de dizer que Nussbaumer, o general dos elegantes sapatos de fivela, também conhecia a história. Mas é um esquecimento sem importância e, além disso, ainda estou a tempo de lembrar esse detalhe. A não ser que eu esteja a mentir. E aí a história muda de figura.

* Não vou aqui fazer uma nota de rodapé sobre este baralho de cartas de jogar. Serviria apenas para quebrar o ritmo de leitura e aborrecer o leitor. 

Rui Manuel Amaral, Doutor Avalanche, Coimbra, Angelus Novus, 2010
("fonte": professor de português)

"E se não se tivesse assustado com a gravata amarela e não tivesse comprado os sapatos de fivela, nos quais tropeçou..." (bea) E se, e se, e se...... e se tudo não passar apenas de uma mentirinha.



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