sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Só pensamentos


Já pensaste... não sei, mas eu gosto de pensar... como seria apenas viver? Sem ninguém a quem agradar, algo a cumprir, um destino já traçado pelos outros a seguir...
Porque é que eu tenho que viver num determinado país, tenho que estar registada no mesmo, tenho que andar na escola e aprender o que deveria aprender por gosto e vontade própria?Porque tenho que jantar às horas que todos jantam, fazer o que todos fazem, acreditar no que as notícias dizem porque todos acreditam? Porque tenho que "parecer bem" aos olhos dos outros, cumprir a tradição disto ou aquilo, porque "já não sei quem o fazia", porque tenho que me vestir "assim ou assado"... Porque existe a rotina?
Não, não... agora, dispersando-me um pouco... Porque existe o dinheiro? Sei que parece difícil imaginar-mo-nos a viver sem ele, mas porquê...? É que "o dinheiro é o cancro da nossa sociedade", não será óbvio? Ou estarás tu cego?
Porque tenho que entrar no mercado de trabalho, porque tenho que ter uma casa, família e vida estáveis? Uhm... porque é "o melhor"? Mas é o melhor para esta sociedade em que vivemos... se eu não concordo com ela, com estes modos de vida, porque é que isto tem que ser o melhor para mim? E se o melhor forem as pequenas coisas que realmente me fazem feliz? Se não vivêssemos num "mundo" capitalista, "idealista", controlador e preconceituoso, seria isto considerado "o melhor"? O controlável, o "com dinheiro", a estabilidade... O NORMAL? 
Porque tenho que ser IGUAL? E sim, sou igual! Tal como TU, TU e TU que dizes ser diferente.
A questão nem é só eu mudar... mas sim o mundo!
Todos sabemos (entenda-se o "todos") que o sistema está errado, que há tanto que devia ser diferente, e que a natureza ambiciosa, violenta e corrupta da raça humana, é cada vez mais repugnante... e que, como diria o Filz, a sociedade é construída nestas "bases". Mas... pensa melhor... para quê "o sistema"? Os políticos, os estados, os países, as economias, as indústrias, as leis, o "faz e não faz", os "direitos e obrigações"...? Achamo-nos tão superiores aos animais e no entanto eles vivem felizes sem nada disto (e não me interessa se achas uma má comparação).
PENSA, mas porque raio alguém tem que mandar?
REFLECTE apenas como seria... nascer livre, num sítio qualquer, ligares-te à terra, ao mundo... sem os problemas, o dinheiro, as "más" tecnologias, as pessoas, a sociedade, o stress... Porque não nascemos num mundo REALMENTE livre, onde possamos decidir o que fazer da nossa vida? Aliás, onde possamos viver um dia de cada vez. De que me interessaria o futuro, se HOJE estaria a fazer o que o meu coração queria que eu fizesse?
Silêncio. Ouve-te. Ignora todas as banalidades, todas as coisas materiais, todas as ideias estereotipadas e preconceitos e ouve-te. Ouve o teu coração, ouve o teu "eu", sem a máscara que usas todos os dias perante os outros.
"Tu pensas que esta Terra te pertence, que o mundo é um ser morto, mas vais ver... que cada pedra, planta ou criatura... está viva e tem alma, é um ser..."
Não dês apenas valor às pessoas. Repara em teu redor, nas maravilhas do mundo que todos os dias as pessoas a quem dás esse valor destroem. Respeita o que te rodeia igualmente e não te sintas superior... porque não o és. Não és dono deste mundo só porque és "humano", até porque nem sequer és dono de ti próprio.
Achas que és...? Não és. "You better wake up and understeand that there r people guiding ur life and u don't even know it" Filz.
Só podes ser totalmente livre quando vivermos num mundo livre.
O Planeta Terra não pertence a ninguém. Não tínhamos o direito, nunca o tivemos, de possuir, controlar e arruiná-lo.
Também ninguém tem o direito de ser dono da tua vida, da tua mente... e no entanto, deixaste manipular... tão facilmente...
Não o permitas! Liberta-te. O que é que importa? Nada importa. Imagina um mundo, o TEU mundo: sem regras, obrigações, a "imagem a transmitir aos outros", sem dinheiro, sem horas, sem rotinas, sem fronteiras... Não aproveitarias a tua vida muito melhor, a fazer o que gostas? Fosse o que fosse. Uma aprendizagem constante, ou um especial gosto pelas palavras. Um jeito para as notas musicais, ou uma vida de constantes paixões. Uma vida de artes ou uma vida baseada no racional e na experiência. Não interessa. A fazer simplesmente o que TU queres, o que te faz feliz.
Sei que parece algo hipotético, impossível? E é. Enquanto a mente humana continuar a RETROCEDER e não a evoluir. Enquanto te deixares manipular, sem ripostar. Enquanto não respeitares o planeta e o que te rodeia. Enquanto não respeitares os outros. Enquanto não te respeitares a ti. Enquanto achares que tens o PODERporque não tens. És apenas dotado de uma vida: desperdiçada
                         uma inteligência: ainda mais desperdiçada
                         uma mente: retrógrada
Como o Filipe escreveu, e bem, não precisamos de uma revolução, mas SIM de uma EVOLUÇÃO (=revolução da mente).. Precisamos da rápida evolução da mente humana e que tudo quanto achamos "desumano" deixe de ser humano.
E precisamos de nos libertar das correntes que nos aprisionam diariamente. Não aceitar o óbvio, mas sim ir ao mais profundo. Mudar, reflectir, lutar...
E não, não é "Deus" que te vai ajudar, porque isso também não passa de uma invenção (um pedido de desculpas respeitoso mas pouco sentido a todos os que se sentirem ofendidos por isto).. é só mais uma invenção que acabou por controlar milhares de mentes! Basta pensares um bocadinho no poder da religião... poder capaz até de criar guerras! E tudo por nomes e histórias diferentes... STOPbeing ridiculous. Se querem agarrar-se a algo (que é compreensível que queiram, visto que faz parte da nossa natureza), agarrem-se a vocês mesmos. À vossa alma, ao vosso espírito... e sim, a "algo" que até acredito que exista, mas ao qual não temos que dar rótulos, nem histórias... nem com isso criar mais um "livro de regras e ensinamentos" (estúpidos).
Ahhhhh..... PENSEM! É tudo mais um negócio: económico (não será - talvez - ridículo, ser contra os ensinamentos da bíblia a luxúria e a avareza e no entanto, o Vaticano ter o dinheiro que tem e os que lá estão viverem como vivem...?)... sim, económico e mais um de "controlo da população". Não quero aqui entrar em teorias da conspiração, mas faz sentido... quanto mais "unidos" (supostamente) nos tornam... organizações,alianças entre países, dependência entre países, religião... mais fácil écontrolarem-nos. Por isso, não querendo entrar mais por aí, pensa apenas que nisto, nesta busca pela vida e por te ouvires, o teu "Deus" és tu.

So.... think, once again. What do u REALLY want? Continuas a achar que vives num mundo perfeito; continuas a achar que fechar os olhos a tudo é sempre o melhor; continuas a achar que marcar a diferença é usar roupas diferentes?
Não, meu amigo/a. Ser DIFERENTE, é EVOLUIR. É ouvires-te. E acima de tudo, é lutar por um mundo melhor. Lutar mesmo, não apenas dizer por dizer. Não apenas lutar por lutar.
É lutar para chegares ao fim da vida e pensar que tentaste sempre libertar-te do que não importa, quebrar as correntes, tocar a terra, ouvir-te... "Percorrer o caminho que mais ninguém percorreu, chegar onde mais ninguém chegou". E só precisas do teu próprio reconhecimento, e não do dos outros. Chegar ao fim e saberes que fizeste algo de útil por ti, pelo mundo.
Mesmo que o que idealizo , ou os pensamentos soltos que aqui deixo, pareçam sem sentido para alguns, sei que outros conseguem interpretá-los (à sua maneira) e idealizá-los comigo. E com poucos, sei que se vai fazendo o muito.
So... let's start de EVOLUTION*


Janeiro 2011

segunda-feira, 30 de maio de 2011

A R T E ?

"A arte contemporânea dá aos artistas liberdade criativa e põe-lhes à disposição recursos materiais imensamente variados. Os caminhos a seguir são múltiplos e as inquietações mais profundas. A Arte Contemporânea não trabalha apenas com objectos concretos mas principalmente com conceitos e atitudes. Agora, reflectir sobre a obra de arte é muito mais importante do que a própria obra de arte em si, que já não é o objecto final, mas sim um instrumento de expressão pessoal, para que o público possa reflectir sobre os conteúdos implícitos do seu próprio quotidiano, sobre a sociedade e sobre as velozes transformações que hoje se vivenciam no mundo actual."
A arte contemporânea sempre gerou, gera e vai continuar a gerar polémica, porque de certo modo quebrou cânones, o que nos faz questionar o que pode na realidade ser considerado arte. 
Diversas teorias da arte no campo da filosofia tentaram justificar ao longo e conforme os tempos o que seria arte. Arte como imitação, como expressão, como transfiguração da realidade, como símbolo, como pura forma, arte pela arte. Todos estes conceitos até podem ser bem aplicados a uma época da história, mas nunca como a única definição de arte. A função e, consequentemente a definição de arte, foram variando conforme as prioridades e reflexões das sociedades da história da humanidade, o que me leva a considerar que, directa ou indirectamente, a arte é simplesmente uma complexa forma de expressão, necessária ao Homem desde sempre.

Desde sempre o artista foi um instrumento para expressar algo: o auge da beleza, glorificação de instituições políticas, religiosas ou militares, libertação de frustrações, refúgio da mente do próprio artista, um modo de passar mensagens à sociedade, um modo de criticar algo ou transmitir sensações ao público, uma necessidade de mudança. A arte pode ter mil propósitos e mil definições perdidas, mas para mim a arte é tão simples quanto expressão, do artista ou expressão de uma época, utilizando precisamente o artista para isso, porque mesmo nestes casos, indirectamente, o criador da obra de arte acaba sempre por pôr um pouco de si no que é a sua criação.
O que é a arte para mim? E para ti? E para os outros? Não importa, porque todos a vemos, e sentimos de modo diferente.
Mas o mais importante é ninguém se deixar cingir por um simples conceito, por muito que concorde ou discorde, até porque a arte não abrange só as artes plásticas. A arte é muito. E a arte é para ser apreciada, ou numa simples experiência estética ou numa reflexão mais profunda. Numa interpretação muito própria, muito única. A arte é para agradar a uns e desagradar a outros. Para transmitir certos sentimentos. De repúdio ou de alegria. Seja ao autor, ou ao público. Para marcar a história do tempo, seja glorificando-a, seja criticando-a. E para marcar a história, os sentimentos, a alma de alguém, o artista, que é sempre o criador que expressa e vai sempre deixando nas suas obras um pedaço de si, seja qual for a época histórica, o movimento artístico, ou modo de expressão. E esse pedaço de si vai no final marcar a alma de outro artista: o observador sublime. Que somos todos nós.


(Conclusão do trabalho de Filosofia sobre Arte Contemporânea)

domingo, 15 de maio de 2011

Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out. Freaking out...







sábado, 14 de maio de 2011

Amo-te











(tão simples, tão puro, tão forte)

Penso (me)

Olhando para o passado, tapo os olhos ao presente
Fujo, presa em mim mesma, ao futuro


Acorda.


O passado torna o passado, naquilo em que realmente é
Pequenos fragmentos e ficam só as recordações. 
Algumas boas, outras más.


E aquilo de que não me apercebo é que,
muitas das pessoas em que penso
Não merecem sequer que olhe para trás.


Não merecem que seja acorrentada
Em mil correntes, mil sensações
E afogada, desesperada
Em milhares de fotografias
Daquilo que são apenas, imagens, pequenas ilusões.


Apercebe-te.


De que o tempo não volta atrás,
Muitos menos eles voltam
O sentimento volta.
Os momentos voltam.
Apercebe-te. Vivemos numa passagem, de barcos que vão e vêm.


Mas o nosso deverá ir sempre avante
Quebrando fronteiras
Mesmo que uns fiquem perdidos nas profundas profundezas
Do maior oceano do ser humano,
Ondas traiçoeiras.


A memória.
hey daddy, where are you?

São fases.

Por vezes penso. Sim, porque até penso. Que já não me corre nas veias.
Será que alguma vez correu?
"Não põe nada no seu blogue há muito tempo"
Desde quando é que ponho? Também é verdade que nunca me habituei muito a um blogue. Mas ainda mais verdade é que me deixo perder no meio de uma vida (demasiado) preenchida, quando ainda nem tenho idade para saber o que isso é. Ando exausta. Não consigo ler muito, muito menos escrever. 
Tenho saudades disso também. Quando antes, o tempo se arranjava sempre. Nem que se comprasse o tempo. E quando antes a escrita era uma necessidade mórbida. De descarregar frustrações. Era quase constante , diário. Talvez essas coisas se percam. E se escondam, pois eu não sei onde estão. Ou talvez sejam "fases". Em contrapartida também ando a desenhar mais... Sim, talvez seja uma "fase". Todos passamos por "fases". Todos adoramos utilizar a desculpa "fases" para justificar algo em nós que não conseguimos justificar de outra maneira. "Ah, são fases". E se uma fase for uma vida? Ou duas? Aí deixam de ser fases? Ou ficamos nessa "fase" uma passagem inteira? 
Não, não são fases. Talvez seja da crise, já não consigo comprar o tempo. Ou talvez seja de outra crise, uma cá dentro. O que nem faz sentido, tirando a exaustão. Crise também é uma boa desculpa. Na verdade, nada deveria ser desculpa. Provavelmente aproveitarei as férias para reanimar e voltar ao mundo real. Sim, porque isto faz parte do (meu) mundo real. Sair da cama, e vir escrever. Escrever , escrever, escrever, em noites intermináveis de sonhos perdidos. Talvez até volte a comprar o tempo. Penso arranjar um "trabalhinho" este verão. Ou talvez não aconteça nada disto e eu continue a dormir. 
Tudo depende se o despertador toca ou não. A horas. A horas de continuar a correr aqui dentro,  mesmo que esteja adormecido, acordar sempre a tempo (àquele tempo comprado) de voltar a acordar. E a viver. Em mim. 

quinta-feira, 31 de março de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

(uma) Série de contos

Uma ameaçadora gravata amarela

Um profundo mistério. Toda a história estava envolta num profundo mistério. Um mistério tão profundo que pouquíssimas pessoas conheciam a história. Pouquíssimas pessoas e algumas moscas. Bom, pouquíssimas pessoas, algumas moscas e um baralho de cartas de jogar. *
Na verdade, apenas conheciam a história pouquíssimas pessoas, algumas moscas, um baralho de cartas de jogar e vários pardais. Os peixes-voadores também conheciam a história, mas ignoravam alguns pormenores importantes. Ignoravam, por exemplo, que no dia fatídico Turovsky usava uma ameaçadora gravata amarela e que Sinavsky soltara um ai bestial antes de tropeçar num longo et caetera e cair para sempre no sono.
Ah sim, esquecia-me de dizer que Nussbaumer, o general dos elegantes sapatos de fivela, também conhecia a história. Mas é um esquecimento sem importância e, além disso, ainda estou a tempo de lembrar esse detalhe. A não ser que eu esteja a mentir. E aí a história muda de figura.

* Não vou aqui fazer uma nota de rodapé sobre este baralho de cartas de jogar. Serviria apenas para quebrar o ritmo de leitura e aborrecer o leitor. 

Rui Manuel Amaral, Doutor Avalanche, Coimbra, Angelus Novus, 2010
("fonte": professor de português)

"E se não se tivesse assustado com a gravata amarela e não tivesse comprado os sapatos de fivela, nos quais tropeçou..." (bea) E se, e se, e se...... e se tudo não passar apenas de uma mentirinha.



(uma) Série de contos

Dois Pombinhos
 
 "Como explicar melhor? Parecia uma borbulha. Uma borbulha rotundamente espetada na ponta do nariz. Era um pouco isso, mas era mais do que isso. Uma espécie de grossa gota de sangue, cheia, altiva e luzidia. O médico foi claro: "Trata-se da semente da loucura. Nem é bom falar no assunto." E calou-se.
  Ora, tratando-se de uma semente, o caso só podia piorar. A semente germinou e cresceu a um ritmo obstinadamente vegetal. No fim do Verão era já um facto muito significativo pendendo do nariz como um fruto maduro. O médico disse: "Trata-se do fruto da loucura. Nem é bom falar no assunto." E calou-se.
Na frente do espelho, não sabia se devia entregar-se ao desejo de rir ou ao transporte da indignação. Era acometido por espantosas crises nervosas. Batia na cabeça com um dos punhos, mordia os lábios e balançava o fruto para cima e para baixo calculando-lhe o peso. Depois desfechava sobre si mesmo uma gargalhada tigrina.
Bom, já tenho uma dor insuportável nos dedos em consequência desta superabundante prosa. Vou andar depressa e resumir. Como tudo isto terminou? Quando chegou o momento, em pleno coração do Outono, arrancou o fruto e ofereceu-o cortesmente à amada. Sucedeu assim e foi tudo. Agora, a coisa vai bem entre os dois pombinhos. Sim, vai mesmo muito bem."
 
Rui Manuel Amaral, Doutor Avalanche, Coimbra, Angelus Novus, 2010
("fonte": professor de português)

friso- o amor é MESMO uma loucura.

(uma) Série de contos

Recitar poemas é coisa que não se pode admitir em cafés

" É um tipo como os outros, de longas madeixas pretas e suíças muito farfalhudas. Está sentado num café a beber  cerveja. De repente, levanta-se e começa a recitar versos em voz alta. Um cliente aproxima-se e aplica-lhe uma vigorosa bofetada. O homem, parecendo não se incomodar, insiste na sua solene actividade poética.
Uma velha, muito irritada com a pouca vergonha* , ergue o punho e administra-lhe um soco rápido e seco em pleno rosto. Um bêbado atira-lhe com um copo. O homem cerra os olhos e esforça-se por elevar ainda mais a voz. Os empregados do café, animados pelo desejo louvável de proteger a dignidade do estabelecimento, caem-lhe em cima, numa fúria avassaladora. Mesas viradas e copos quebrados. Ouvem-se injúrias em todos os idiomas. Murros e pontapés seguem-se uns aos outros com uma tal violência que as janelas chocalham nos caixilhos e o chão treme. O homem muda de cor, perde o nariz, estilhaça as rótulas, mas não se deixa vergar pelo evoluir dos acontecimentos.
- Ah!, pudesse eu ser preso de um fogo cruel ou engolido pelo mar tempestuoso! - grita ele com uma determinação inflexível, quase sem dentes, debaixo de uma trovoada de socos e bofetadas.
O dono do café, que é uma alma justa e boa, segura um revólver e, sem gastar tempo nas palavras, alveja o homem no peito. Em consequência disso, o homem morre. E é muito bem feito. Recitar poemas é coisa que não se pode admitir nos cafés.


*  - Vá recitar para outra freguesia, seu atrevido - diz ela, esbaforida de indignação."


Rui Manuel Amaral, Doutor Avalanche, Coimbra, Angelus Novus, 2010("fonte": professor de português)

Qual o mais louco dos loucos? 
Qual a violência mais violenta, a violência mais suave? A humana ou a das palavras?

sábado, 19 de março de 2011

E desapareceres? Pára de me perseguir, de me deixa paranóica com a tua presença indesejável.
Sai, foge, corre para longe e desaparece. Desaparece da minha vida.
Pára de seguir tudo o que faço e de dar passos a seguir de propósito para me provocar. Não provocas. Esquece, são meus, não teus. Pára , pára, pára. Pára de ter essa personalidade que detesto. Pára com as mentiras e falsidades. Estou farta de ouvir a tua voz na minha cabeça. Farta de olhar para a tua cara. Pára de ter esses efeitos obscuros em mim. Pára de me fazer alimentar de raiva porque isto não é saudável e é um sentimento que nos corrói por dentro. Pára de a fazer crescer.
E simplesmente... desaparece ao sabor do vento... e deixa-o voltar sozinho, para me deixar respirar ar puro.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Inspira-me.

Se pudesse ou soubesse, se assim o devo fazer, escrever ou dizer. Se pudesse ou soubesse , reconhecer este(s) estado(s), de infinitas resoluções. Se pudesse ou soubesse, dizer o que sinto, receio ou paixão. Se pudesse, talvez soubesse. Se pudesse, procuraria saber. Se reflicto é porque penso. E se penso, é porque sinto.

Se sinto, é porque te sinto. Porque tu é que me fazes sentir.

Se assim estou, é porque deixei que entrasses no meu ser, deixei que cá entrasse um pedaço de alma, que corria com o vento. Esse vento chamou-me. Cativou-me. Assombrou-me também. Mas acima de tudo, ajudou-me. A descobrir (te).

Se pudesse ou soubesse como seria ter continuado a viver, sem esse pedaço de alma.. Sim, sem ele, que me cegou toda a beleza do que se escondia lá fora.

Lá fora, lá onde? Por aí. Mas parti. Deixei. Só que unicamente num sentido. Deixei o negrume, deixei tudo, menos o vento, porque esse é o meu guia. Soprando de Norte ou de Sul, será o único a arrepiar-me os sentidos, a fazer-me respirar.

Mas tu. Tu, não vás. Não deves ir. Penso não conseguir deixa-lo. Se vais, todo o ar puro vai contigo, bem como o fogo. Bem como todas as delicadezas do (meu) sorriso também.
E nunca voltarei a estar completa sem esse sorriso. 

Quando ele desvanece, perante o meu olhar insaciado, cercado de um muro de mil dores distintas (fortes, porém, incompreensíveis) parte isto tudo também. O sorriso. A luz (a tua luz), ou as letras. A escrita. Não sobre o sorriso, mas sobre ele. O Amor.

domingo, 13 de fevereiro de 2011